Hoje em dia muito se fala sobre meditação, mindfulness, foco, concentração, então vamos falar um pouco sobre esse tema.
Afinal, o que significa meditar?
Em português a palavra “meditar” tem mais de um significado, então vemos nos dicionários a definição: refletir, pensar, ponderar, contemplar e, em alguns dicionários, não pensar. O que causa uma ambiguidade na nossa cabeça. É para pensar ou não é para pensar?
É bem verdade que nossa mente não para. Estamos o tempo todo resolvendo pequenos e grandes problemas, e isso cansa e desgasta nossa cabeça. Apesar disso, não costumamos dar uma pausa, umas férias para nossa mente, e acabamos estressados. Isso também gera reflexos nas nossas decisões pessoais e profissionais.
O que a meditação busca é diminuir esse turbilhão de emoções, de pensamentos, de decisões, para que possamos ter mais discernimento, mais clareza, mais criatividade, mais intuição para gerir nossas vidas.
Essa tecnologia milenar da meditação é algo que é da natureza humana. A ideia é que consigamos tomar um distanciamento para que nos tornemos observadores, tanto do mundo ao nosso redor, como também das nossas próprias emoções, sentimentos, pensamentos, tudo que influencia nosso corpo, nossa vida, nossas decisões.
Meditar não é um dom divino que poucos possuem, é algo natural à espécie humana, que através da prática, do auto-estudo, avançamos. Por exemplo, nós somos muito bons em sentir estresse, e temos uma grande capacidade de premeditar, que foi uma ferramenta que desenvolvemos através dos tempos como sobrevivência, para nos livrarmos de muitos problemas, mas também acabou nos levando ao estresse crônico. Da mesma forma, o estado meditativo também já possui seu eixo biológico, orgânico, que nos conduz a um estado diferenciado, só que temos que desenvolvê-lo.
Quando focamos a atenção em algo que é importante para nós, o eixo de atenção plena é acionado e você não precisa pensar racionalmente nisso, não precisa ficar pensando no que está acontecendo com seu processo neurológico, com seus hormônios etc.
É como quando você sai para comer uma pizza. Você não precisa se concentrar no seu processo digestivo para que ele aconteça. Já é algo inato ao funcionamento do seu corpo.
A meditação, na verdade, não desligará completamente o seu cérebro. Algumas áreas vão descansar e outras vão trabalhar mais, pois quando colocamos nosso foco de forma prolongada em algo, ativamos o eixo de atenção plena, ou seja, o Córtex pré-frontal trabalhará mais e acionará o Giro Cingulado, que fará com que o Tálamo diminua suas atividades, o que gera menos gatilhos de estresse para o cérebro.
O Tálamo é como um correio sensorial, que conecta o mundo exterior às informações corticais, aos pensamentos, às ideias, sentimentos e comportamentos. Quando temos um menor impacto sensorial do mundo em nós, geramos menos gatilhos inatos, como: medo, fome, dor e raiva. Pois o tálamo que direciona as sensações que afetam o corpo e as canaliza para o cérebro. Com o tálamo adormecido, essas sensações são passadas de forma mais lenta, com maior capacidade de discernimento, com reflexos conscientes. Assim conseguimos perceber nossos sentimentos, emoções e comportamentos para tomadas de decisões mais racionais.
Além disso, o ato meditativo produz alguns hormônios, como a dopamina (que gera bem-estar e antecipa o prazer), a serotonina (que gera saciedade, corta fome, diminui a raiva e diminui a ansiedade), e a melatonina (o hormônio do sono, que regula também o metabolismo).
Meditação X relaxamento
Quando falamos em meditação, também é importante desassociar meditação de descanso ou relaxamento. Quando meditamos é importante estar com o corpo relaxado, mas diferente do descanso, que queremos nos desligar de tudo, na meditação nós queremos ter uma percepção expandida de tudo. É estar ainda mais acordado. Meditação é um potencializador.
A base para isso é a concentração.
Você poderia me perguntar: mas qual a lógica de se concentrar em um único ponto? A grande chave, o grande segredo da meditação não é no que você está concentrando, mas sim na quantidade de coisas que você deixou de pensar.
Vamos fazer um exercício:
Sente-se, feche os olhos e simplesmente não pense em nada.
Conseguiu? Provavelmente não, verdade? É complexo não pensar em nada, diria que quase impossível. Nossa mente se alimenta de dispersões. Então, como não podemos parar de pensar, nós diminuímos a quantidade de pensamentos, ao mínimo que podemos chegar, a um só objeto, ou som, ou imagem, ou sensação.
Claro que, no começo, isso não acontecerá, mas não fique frustrado. Pois assim como um exercício físico, a meditação exige prática e disciplina. Vamos degustar esse caminho de forma prazerosa.
A meditação é como um nível avançado de concentração. E a partir dessa concentração em algo, desse foco pleno, queremos chegar a um estado que está além do emocional e quem sabe além do racional, chegando a um estado intuicional, de insights. Você para de pensar em várias coisas, de julgar o que está acontecendo o tempo todo, para de ser influenciado pelas emoções, sentimentos, por experiências passadas e expectativas futuras e consegue permanecer nesse estado por alguns instantes.
A intuição é como um flash. Então pode ser que venha durante ou após um exercício de concentração por algum tempo, pois você relaxa e para de se cobrar, e assim vem a intuição. Porque não necessariamente você medita o tempo todo que está sentado com os olhos fechados. Você está na verdade buscando se concentrar em algo e permanecer de forma linear nesse objeto de concentração. E então esses insights vêm, que seriam a meditação propriamente dita, ou seja, quando você consegue essa diminuição máxima nas atividades mentais, que estão sempre influenciadas por emoções, aí sim é meditação.
Quando criamos expectativas durante a meditação e já estamos ansiosos para chegar no estado proporcionado pela meditação, então não estamos no momento presente, estamos criando um futuro em nossas cabeças, e acabamos dificultando esse estado. Por isso, meditar também é um exercício que nos ensina que tudo vem no seu tempo, com disciplina, com o hábito, com a dedicação e entrega em prol de um objetivo.
O exercício que fazemos nas aulas de yoga e meditação na escola, ou em casa, são treinamentos, mas esse estado meditativo, que está relacionada a sua intuição, pode vir fora da sala, quando não há expectativas, nem cobranças.
É uma ginástica mental, concentramos e dispersamos, concentramos de novo e dispersamos. E isso deve ser de forma prazerosa, pois nós já nos cobramos muito o tempo todo, então deve ser um momento de apenas desfrutar um encontro consigo, sem paradigmas, sem obrigações. Caso perca a concentração, concentre-se de novo. Se está difícil, não tem problema, só não se cobre. É como ir à academia e querer levantar muito peso de uma só vez e ficar frustrado se não levantar. Vá aos poucos, curta o caminho.
Como meditar?
Agora você me pergunta: mas como faço esse negócio aí de meditação?
Existem diferentes técnicas para meditar. Então é importante definir uma que te agrade e utilizá-la por um bom período. Lembrando que é algo orgânico, então a constância que fará evoluir.
Então vamos lá. Vamos escolher primeiro se você prefere visualizar algo ou concentrar em um som, ou quem sabe em uma sensação.
E para não ficar dispersando no meio da sua meditação, defina o que vai fazer. Senão você senta e começa a pensar: essa técnica não está funcionando, deixa eu pensar em outra aqui, aí já viu, né. A mente, que parece um macaco pulando de galho em galho, vai embora e começa a viajar, pois o alimento da nossa mente é a dispersão.
Então se, por exemplo, eu focar no som de uma cachoeira, ou noutro som, vou abstrair os outros sentidos, focando apenas na audição e suas nuances. Ou então, vou concentrar na chama de uma vela e esquecer o resto. Ou, quem sabe, imaginar um sol brilhando no crânio e buscar me concentrar apenas nisso. O grande segredo é concentrar totalmente naquilo que você definir. Aí aqueles milhares de pensamentos que você tinha, viram centenas, quem sabe dezenas, até chegar só em um, que é o que você decidiu concentrar. Depois, nem esse único foco existe mais, você se mescla com esse ponto de foco e aí chega ao estado denominado meditação (dhyána, em sânscrito).
Muitos me perguntam também sobre a meditação guiada. Um tema bem interessante para entendermos o que é esse estado. Como eu disse anteriormente, em sânscrito a palavra que se refere à meditação é dhyána, e esse estado deve ser autoconduzido, ou seja, teoricamente não há como falar em meditação guiada, pois enquanto existe alguém nos guiando estamos em um estado racional, de concentração, dhárana, que é o estado que antecede dhyána, mas não é a meditação propriamente dita. Então “meditação” guiada não seria a melhor definição para essa prática, que acaba se aproximando mais a uma prática de Yoganidrá, por nos conduzir a um estado de descontração e concentração.
Quanto tempo devo meditar por dia? Quantos dias por semana?
A prática do Yoga nos conduz a um estado que potencializa a meditação, então se você vai meditar depois de uma aula de Yoga, por exemplo, 2 minutos, 3 minutos parecem que se expandiram. Mas quando simplesmente sentamos e ainda estamos sob o efeito de outras atividades externas, como quando chegamos do trabalho, do trânsito, nosso corpo ainda está muito agitado. Então é importante primeiro desacelerar um pouco e tentar fazer 5 minutos, 10 minutos. Com o passar dos meses e dos anos de prática vamos aumentando, até uns 20 minutos. Claro que há pessoas que meditam por horas, mas não se preocupe com isso, o importante é a qualidade. Às vezes, 10 minutos totalmente concentrado podem ser mais proveitosos que 1 hora dispersa. Depende de pessoa para pessoa, mas meditar por muito tempo pode ser incômodo, e desestimular no começo, porque é um exercício de concentração, então também cansa, mas o corpo aos poucos se acostuma. O importante é criar o hábito de meditar todos os dias, seja nas aulas de yoga ou nas aulas de meditação da escola ou mesmo na sua casa.