Muito foi escrito sobre Yoga durante milhares de anos. Então, meu objetivo não poderia ser esgotar esse tema, mas sim dar uma pincelada em destaques para uma reflexão inicial e um futuro aprofundamento pessoal.
A tradução literal do termo sânscrito Yoga é união.
A definição mais difundida é que “Yoga é a supressão da instabilidade da consciência” (Yoga sútras de Patáñjali)
Bom, mas às vezes as definições podem não falar muito por si sós, e você pode continuar se perguntando o que é esse tal negócio de Yoga.
Eu estou muito acostumado a escutar a pergunta: Para que serve o Yoga? Serve para depressão? Para ansiedade? Para ficar zen? Para ficar flexível? Etc.
Na verdade, por ser uma prática que tem milhares de anos, e que iniciou-se, ao que tudo indica, numa sociedade tão diferente da nossa, num país tão distante, que desde então já foi governado e invadido por tantos povos e teve tantas mudanças, é complicado precisarmos perfeitamente o que era o Yoga quando ele foi criado (se é que alguém realmente o “criou”, pois algumas práticas que eram naturais e espontâneas em uma época, muitos anos depois foram codificadas e “transformadas” no que hoje enxergamos como uma filosofia milenar no Ocidente).
Yoga também pode ser visto como uma arte, no sentido que não tem nenhum objetivo específico, como a literatura, a música, as artes plásticas. Elas servem para muita coisa, mas o objetivo primeiro delas não é servir, mas sim serem vivenciadas por um prazer e desejo espontâneos.
Mas além disso, essa ferramenta, que tem funcionado como uma forma de desenvolvimento em diversas épocas, culturas e tradições, vem transformando vidas há muito tempo até chegar aos nossos dias e podermos desfrutar, aprender e vivenciar a partir de conhecimentos que vêm sendo passados de mestres a discípulos.
Yoga é a teoria e a prática da transformação do corpo e da mente.
É uma técnica de transformação pessoal. É um conhecimento que nos capacita a transcender os limites da realidade em que estamos inseridos.
E a partir de um trabalho físico, emocional, mental e intuicional, as técnicas nos desenvolvem, por vezes sem que percebamos de forma palpável, porém com poucos meses sentimos diferença.
O sádhana, a prática, é um caminho para a compreensão. E quanto mais nos aprofundamos nas técnicas, mais sentimos que o Yoga vai além da sala de aula. É uma filosofia que nos conecta conosco, com cada momento dos nossos dias.
É como se regássemos nosso jardim interior diariamente com nossas aulas de yoga, mantendo-o sempre florido, independente da época do ano, das turbulências das estações e das mudanças de clima, sempre cuidamos e mantemos o mais belo que podemos. Uma floresta pode se tornar um deserto rapidamente com um desmatamento ou com um incêndio. Entretanto, para transformar um deserto em uma floresta é preciso muito cuidado diário e disciplina.
Outro ponto que gosto de comentar é sobre o desenvolvimento da sensorialidade. A sutilização dos sentidos nos leva a sentir mais prazer nas mesmas ações antigas. Imagine-se comendo a mesma comida que sempre comeu e percebendo-a mais gostosa. É isso que vai acontecendo com diversas percepções da vida ao seu redor. Os sentidos vão se expandindo, os prazeres vão aumentando, os desprazeres vão sendo interpretados de outra forma, para percebermos que o universo é harmônico e para desenvolvermos mais nosso sexto sentido é importante estarmos com os outros cinco bem nutridos e desenvolvidos.
Essa prática poderosa nos permite acessar áreas profundas ainda não acessadas, novos campos, ampliando nossos horizontes de percepções e, acredito eu, que de outra forma não acessaria.
Sempre falamos em evoluir através do prazer. No entanto não devemos confundir prazer com displicência. Precisamos de disciplina para evoluir. O ideal é praticar todos os dias, mesmo que sejam poucos minutos. É melhor praticar 10 minutos por dia, do que 2 horas uma vez por semana. Lembre-se que as aulas de yoga e suas práticas pessoais não são compostas somente pela parte física, ou seja, quando falo em praticar todos os dias, estou me referindo também às outras partes. Faça respiratórios, mentalizações, meditação. Leve consciência para seus dias, suas atitudes, suas emoções, sua alimentação. Tudo isso faz parte da filosofia.
Dessa forma você perceberá que a disciplina liberta. Liberta a mente, liberta os condicionamentos, liberta até a noção de disciplina, que se torna algo natural e prazeroso.
Somos seres livres, mas fomos engaiolados. Parece exagero, mas estamos cheios de condicionamentos. E a liberdade é uma mudança de perspectiva. Sentir-se completo com sua própria presença, sem a necessidade de nada externo é algo revolucionário na sociedade em que vivemos. Não quer dizer que temos que nos isolar, de forma alguma. Apenas sentir-nos plenos com o nosso ser. Sentir-nos alegres, contentes conosco mesmos, com tudo que temos em nossas vidas, com nossa saúde, familiares, amigos, trabalhos, estudos, com tudo, até o que pode parecer negativo vem como ensinamento, como oportunidade de evolução. E essa mudança de perspectiva faz com que tudo ao nosso redor seja mais harmônico e flua livremente. O Yoga é um ordenador de realidade, pois o que conta na vida não é a realidade em si, mas a percepção que você tem dela.
Lembre-se que ninguém pode prender seus pensamentos, seus ideais, seus objetivos. Você está no seu caminho, e o Yoga só vem para potencializar a sua jornada, independente de qual seja ela.